terça-feira, 28 de outubro de 2025

O Altar Não Tem Sobrenome

 


“O Altar Não Tem Sobrenome”

(Um alerta sobre o nepotismo que disfarça herança de sangue em chamado divino)



Há coisas que o tempo aceita com naturalidade — e há outras que o tempo deveria ter vergonha de aceitar.


É normal que um pai deixe sua empresa para o filho, afinal, o patrimônio é dele. É compreensível que um artista tente empurrar o filho para o palco — ainda que o talento não acompanhe o DNA. É previsível ver um político preparando o herdeiro para o mesmo palanque. Mas o que não dá para compreender — nem com teologia torcida nem com retórica piedosa — é ver o altar sendo tratado como cartório de herança.

Quando o púlpito vira propriedade

Deus chamou Moisés. Depois, escolheu Josué. Nenhum deles herdou o cajado do pai — herdaram o encargo de Deus. Mas hoje, em muitas igrejas, o cajado já vem com etiqueta de família: “De pai para filho”. E o altar, que deveria ser lugar de lágrimas, se transforma em um escritório de sucessão.

Parece forte? Pois é. Mas é isso mesmo: o púlpito deixou de ser monte de adoração para virar negócio de família. Filhos, esposas, sobrinhos, genros e noras desfilam cargos e títulos com a mesma facilidade com que se trocam chaves de um empreendimento. E o povo — que deveria discernir — se cala, confundindo honra espiritual com submissão cega.


Quando o sangue pesa mais que o Espírito

A lógica do nepotismo é simples: quem manda quer perpetuar o próprio poder.
Mas a lógica do Reino é oposta: quem manda, serve; quem sobe, se curva; quem tem, reparte.

“Porque o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir.” (Marcos 10:45)

O que dizer, então, quando ministérios passam a ter o rosto da família e não o rosto de Cristo? Quando o nome na fachada da igreja importa mais do que o Nome sobre todo nome?
(Fl 2:9)

O Evangelho não precisa de herdeiros — precisa de enviados. E o chamado não corre em veia de sangue, mas no sopro do Espírito.


O constrangimento dos que percebem, mas calam

Há quem perceba, sim. Mas aprendeu a engolir seco. Aprendeu que “questionar” é sinal de rebeldia, e que toda crítica soa como afronta à unção. Criou-se um medo quase supersticioso: “se eu tocar no ungido, Deus me castiga”.
Mas tocar não é o mesmo que discernir. E quem fecha os olhos para o erro, em nome da reverência, pratica idolatria disfarçada de respeito.

“Examinai tudo. Retende o bem.” (1 Tessalonicenses 5:21)

Examine. Questione. Ore. Pois há “ungidos” que foram chamados, e há outros que foram herdados.


A teologia da conveniência

O mais assustador é ver teólogos e pastores maduros, homens outrora zelosos, agora justificando o injustificável. Dizem que “é normal”, que “Deus também usa famílias”, que “é bom manter a linhagem do ministério”. Mas o que era um desvio, agora virou doutrina informal.
E o que era vergonha, virou modelo. No fundo, é simples: quem tem o poder, quer garantir o trono.
Quem tem o microfone, quer garantir o eco. E quem tem a igreja, quer garantir o sobrenome na placa. Só esqueceram de uma coisa: a Noiva não é herança de família. É propriedade exclusiva do Cordeiro.


Um alerta com amor e temor

Samuel não conseguiu manter seus filhos fiéis. E foi justamente o nepotismo espiritual que abriu caminho para o povo pedir um rei terreno (1 Samuel 8).


Quando o ministério vira dinastia, Deus é trocado por estrutura. E quando o altar se torna empresa, o Espírito se retira em silêncio.

Mas ainda há tempo. Tempo de arrependimento, de humildade, de quebrantamento. Tempo de lembrar que o Reino não é construído com herdeiros, mas com servos.

“Quem quiser ser o primeiro, seja o servo de todos.” (Marcos 9:35)

Que os olhos da Igreja se abram novamente. Que o altar volte a ser santo, e não hereditário.
Que o nome gravado no púlpito volte a ser Jesus Cristo — o único digno de herdar tudo.


Conclusão: o altar não tem sobrenome

No fim, o nepotismo não é apenas erro administrativo — é heresia silenciosa. Ele transforma o Reino em feudo, o chamado em carreira, e o altar em propriedade particular. Mas o altar, querido irmão, não tem sobrenome. Tem dono.
E o dono não divide Sua glória com ninguém (Isaías 42:8).

Que essa verdade incomode, desperte e purifique. Pois melhor é ser servo no Reino, do que herdeiro de um púlpito vazio da presença de Deus.

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